A atual situação do ensino de Língua Portuguesa em qualquer nível tem provocado ações que contemplam não apenas a crítica a esse modelo, mas, principalmente aquelas que venham contribuir para
um ensino mais significativo que amplie as competências de ler e escrever com maior proficiência. Recentemente, o ensino médio tem sido objeto de avaliação (SAEB, ENEM, PISA) e uma das
competências centrais mais avaliadas em todos esses sistemas ou instrumentos é a capacidade leitora. Os resultados dessas avaliações, por si sós, demonstram os sérios problemas que se enfrentam no ensino de leitura e escrita: um número significativo de alunos do ensino médio apresenta capacidades de leitura em nível muito simples e ainda não se constituíram como leitores críticos, aptos para um mundo letrado.
Tais constatações sinalizam para um trabalho em ambiente escolar que venha atender a essas necessidades de formação de um aluno mais proficiente em práticas discursivas de leitura e escrita que
sejam adequadas e esperadas para o ensino médio. Tal trabalho na área de Língua Portuguesa deverá nortear-se por uma concepção enunciativa de linguagem que vise a extrapolar os limites da análise
estrutural e gramatical dissociada de uma compreensão do funcionamento da Língua Portuguesa, uma vez que esse centramento na análise lingüística por si só tem se reveladoinsuficiente para ler e escrever bem na escola e fora dela. Para tanto, a compreensão da linguagem como construção social, como ato social por meio do qual os sujeitos agem no mundo mostra-se como adequada a tal objetivo. A linguagem como interação social pressupõe a interlocução, a relação intersubjetiva que considera os
níveis dessa interação, os projetos de dizer, os posicionamentos sociais, as ideologias, os valores, como também o contexto maior no qual essa interação acontece e que abarca os sujeitos, as
histórias e os lugares. Esses pressupostos norteiam o entendimento de que os textos (orais/escritos, multimodais) têm autoria, história e que não carregam seus sentidos em si mesmos, mas que esses
são construídos por sujeitos situados e posicionados no mundo, enfim, os contextos de produção da leitura e da escrita são considerados para um entendimento mais amplo do real funcionamento da linguagem distante daquele que a compreende como abstração, sistema autônomo que paira sob os sujeitos e para os quais se apresenta como simples exterioridade.
Vale ressaltar, ainda, que tal concepção ao considerar que o eu só se constitui na relação com o outro, na diferença, possibilita problematizar os discursos hegemônicos e a compreender os matizes identitários engendrados nos discursos. Além desses pressupostos básicos, as ações em Língua Portuguesa devem contemplar a intersemioticidade entre linguagens, no que se refere aos letramentos multisemióticos necessários para a atuação na contemporaneidade cada vez mais marcada pelo hibridismo e pelo diálogo entre os diferentes sistemas de linguagem manifestos em diferentes textos, gêneros, suportes, discursos construídos sob a marca da multimodalidade. Assim, o ensino de língua portuguesaao se pautar por essa concepção de linguagem pode garantir o acesso ao conhecimento lingüístico-textual-discursivo necessário à vida contemporânea que exige cada vez mais leitores competentes e sujeitos que atuem no mundo por meio da escrita significativa. Para atingir tal propósito, este projeto elege como unidade de análise o texto, aqui entendido como instância de materialidade discursiva e como objeto de análise o gênero discursivo, aqui entendido como enunciados relativamente estáveis (BAKHTIN, 2003) agenciadores de práticas discursivas social e historicamente significativas. Compreende-se que esse trabalho significativo e produtivo na área de Língua Portuguesa implica formação inicial e continuada do professor alinhada com as atuais discussões oriundas de pesquisas realizadas em diferentes instâncias no que se refere à leitura, escrita e análise linguística.
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte reconhece que essa formação inicial e continuada do professor exige que a instituição dê especial atenção à educação básica. Reconhece, também, que a melhoria da qualidade da educação básica depende da adequada formação dos licenciandos que atuarão nesse nível de ensino e também das oportunidades oferecidas aos docentes em exercício nas escolas públicas.
A formação de professores representa um esforço institucional permanente da UFRN. Neste sentido, o plano de trabalho que se apresenta neste subprojeto, para o Programa de Bolsa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID), vem ao encontro das ações propostas pela UFRN de forma a contribuir não somente para a permanência dos estudantes nos cursos de Licenciatura, comotambém para a potencialização de sua formação no que concerne ao trabalho em sala de aula de forma crítica, reflexiva e comprometida com a formação de alunos aptos para circular no mundo letrado que exige competências e letramentos múltiplos.
Além disso, este projetor também aponta para a necessária articulação entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Secretaria da Educação, da Cultura e dos Desportos do Rio Grande do Norte (SEEC-RN) a favor da melhoria do ensino nas escolas públicas, particularmente aquelas em que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) está abaixo da média nacional, que é igual a 3,8.